O negacionismo como estratégia governamental e a universidade pública brasileira

Angelo Brigato Esther

Resumen


O objetivo desse artigo é analisar como a universidade pública vem sendo concebida e tratada pelo governo federal a partir do impedimento da Presidenta Dilma Rousseff, sobretudo por meio de uma narrativa que a deprecia em termos de seu papel e de sua atuação, atribuindo-lhe determinado sentido ou significado. A universidade brasileira vive um momento difícil de sua história, na medida em que vem sofrendo cortes orçamentários constantes, comprometendo sua condição operacional, situação agravada pela pandemia do novo coronavírus. No Brasil, assumimos que o negacionismo observado constitui uma estratégia deliberada com o objetivo de enfraquecer e desqualificar o pensamento crítico e reflexivo que coloca em xeque o avanço dos interesses do capital financeiro global. Atende a um projeto mais amplo, uma forma de existência social, econômica e cultural de cariz neoliberal imbricada numa geopolítica do conhecimento que favorece determinados interesses de certos grupos e nações. Tal projeto implica, portanto, a defesa de uma visão de mundo que deve ser estabelecida como a visão correta do modo de existência. Constitui a defesa do pensamento único. Ainda que na prática sua autonomia seja mais ilusória do que real, é fato que, quando a universidade faz uso dessa liberdade, quando ela «incomoda», é que ela sofre os ataques de determinados grupos, especialmente daqueles que estão em posição de decisão estratégica, como os governos, e percebem na crítica uma ameaça a determinados interesses.

  

Palabras clave


universidade; negacionismo; educação superior

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DOI: https://doi.org/10.14516/fde.1106

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